sexta-feira, 6 de abril de 2018

#114 CASA DO BANDEIRANTE

Olá, andarilhos. Tudo bem? Um ótimo sábado a vocês. O que vão fazer hoje?

É realmente incrível como São Paulo ainda consegue me surpreender. São Paulo tem os seus problemas, mas apresente-me uma cidade que não tem. Acho injusto resumi-la em trânsito caótico, alagamentos, enchentes, que aqui é cinza e não tem verde e que não se tem nada para fazer.
Todos esses pontos ruins que eu citei primeiro, surgem da nossa educação também e é necessário fazer a nossa parte para que a gente consiga viver na cidade que queremos.
Enfim, não entendo esse povo que diz que São Paulo não tem verde. Eu não gosto do apelido dado: SELVA DE PEDRA.
Não é só isso, entendem? Que aqui tem zilhões de prédios é verdade e se não tivesse, seria uma cidade do interior, concordam comigo? Aliás, até cidades interioranas sejam elas quais forem, tem uma parte urbana ao redor. Dependendo da cidade nem existe o verde que muita gente busca.
Então, resumindo, se você enxerga São Paulo como uma única e exclusiva selva de pedra, te convido a andar comigo, porque a cidade que eu enxergo é muito diferente do que os outros enxergam.


Quem acompanha o blog sabe o quanto eu pesquiso e tento encontrar os lugares mais diferentes possíveis. Simplesmente acho que o que é melhor está escondido e precisa ser aproveitado. Precisa ser conhecido. E com essa minha busca, tenho descoberto lugares maravilhosos e incríveis, completamente fora do Centro de São Paulo.
São Paulo não é só Centro, Avenida Paulista e arredores. Pode ser mais fácil de chegar até eles, mas espero que vocês sejam como eu. Gosto de extremos e sou do tipo que atravessa a cidade no meio da rodovia Raposo Tavares, a pé, na chuva, só para tomar um sorvete e voltar. É disso que eu gosto. Dessas aventuras meio bobas, mas que acrescentam e muito. Vou contar sobre isso depois.
Parte dessa aventura, contarei agora.

Vamos conhecer a CASA DO BANDEIRANTE?

A Casa do Bandeirante ou Casa do Butantã é mais uma das representações típicas rurais quando São Paulo ainda não era conhecida como tal.
Erguida entre os séculos XVII e XVIII, é uma construção bandeirista no período colonial da cidade. Feita à taipa de pilão ( acho um charme esse tipo de construção), possui 350 metros divididos em 12 cômodos. A casa é bem grandinha e como os cômodos se parecem, você se confunde um pouco ao andar por lá;
Documentos afirmam que a casa pertence ao ano de 1566.
Falar sobre a Casa do Bandeirante e não falar de História é praticamente impossível e como é um dos lugares mais antigos da cidade, quando a colônia portuguesa se encontrava por aqui ainda, vou tentar resumir por que eu não sou professora de História, apesar de gostar bastante. O andarilho é, eu não. Qualquer dúvida, é com ele.
A história de São Paulo se resume muito a café, rios e missões jesuíticas. Esses rios faziam parte de caminhos indígenas e facilitavam na exportação de produtos. São Paulo tinha muitas vilas rurais e os próprios portugueses e jesuítas que não tinham dinheiro e já estavam de saco cheio de ordens da Coroa, fugiram do litoral e chegaram por aqui. E foram essa pessoas que acabaram fundando São Paulo; gente muito pobre e índios que viviam perto das vilas. Para fugir da pobreza extrema, a ideia era buscar ouro no sertão e escravizar índios que viviam sob terras inimigas.
Então, dessa forma nasceram as Bandeiras e por fim, os bandeirantes, que foram os nomes dados aos colonos portugueses que no fim, foram para essas expedições.
O que significa esse nome: BANDEIRANTE? Foram homens durante o período colonial que foram em busca de terras e riquezas como o ouro, captura de índios e escravos e seus percursos eram na maioria do Rio Tietê e Pinheiros.
Andarilhos, já imaginaram alguma vez na vida de vocês que o Tietê já foi limpo um dia e que tinham homens dentro dele para caçar sabe-se lá o quê? Não devia ter ouro no Tietê, então acredito que só devia ser passagem mesmo.
Os mais conhecidos foram o Manuel Borba Gato e o Bartolomeu Bueno da Silva. Esse, a estátua dele está bem em frente ao Parque Trianon na Avenida Paulista. Espero que vocês não tenham fugido da aula de História.

Então, essa casa lindíssima remete a memória da cidade. E deram o nome dessa terra que ficava ao redor do rio, de Uvatantan que significa "Terra Dura".
Essa casa pertenceu ao casal português Alfonso Sardinha e esposa que logo depois, deixaram a casa para os jesuítas que foram expulsos em 1759. Depois disso, essa casa, foi à leilão e mais um casal se tornou proprietário para que finalmente, uma empresa comprasse o imóvel. Essa empresa, Companhia City, percebendo a importância histórica, doou para a Prefeitura, assim como os arredores.

Eu já falei por aqui que eu amo uma construção a base de taipa de pilão ( barro socado, areia e argila). Pode não parecer, mas isso é mais resistente que qualquer cimento. Feito da maneira certa, por quem sabe, é uma beleza. Por quase duzentos anos, esse foi o tipo de construção mais utilizado nessa época, antes do desenvolvimento chegar. Mas, ainda assim, foi essencial para o crescimento não só da nossa cidade, como nos arredores também.

Precisamos falar sobre o Jardim.

Na real, poucas vezes, vi algo tão bonito e tão bem cuidado. Primeiro, que fica em uma rua completamente arborizada. Eu fiquei encantada. Segundo, essa casa fica no meio de uma avenida movimentadíssima. Ao chegar, você não escuta buzinas, carros ou ônibus. Não vou dizer que nem parece que você não está em São Paulo, pois está e é isso que é incrível.
São Paulo pode ser caótica como também pode ser tranquila e serena.
A fauna e a flora são intensas. Se você tem medo de insetos, talvez não fique tão à vontade. Tome cuidado no jardim, há muitas teias de aranhas e elas são gigantescas. Não sei se são venenosas ou não. Então, cautela sempre. Eu consegui tirar fotos, mas elas pulam e dá para assustar. Não é algo tão legal assim.
Eu poderia ficar horas naquele jardim, escutando os passarinhos, sentindo o vento na cara, brincando no balanço que fica em um parquinho que tem ali, vendo os bambuzais e tirando a foto do moedor de milho do século XVIII. Andei, andei, andei e não encontrei esse moedor. Perdi tempo demais tirando foto das aranhas.
E, naquela época, havia plantação de ervas medicinais. E é uma pena que não há identificação das árvores. Sério, eu queria entender o porquê disso, já que eu não sou botânica e nem adivinha.
Preste atenção nas flores. São maravilhosas.
A sensação é de que se está em uma fazenda, esperando pelo seu café, enquanto o dono do sitio foi cortar lenha para acender o fogão.
Fogão esse que não existia, pois os paulistas haviam adquirido os hábitos dos índios: o de cozinhar ao ar livre.

Então, o processo de restauração começou em 1954, pela comissão do 4o Centenário de São Paulo que seria realizada pelo arquiteto Luis Sala. Então, a partir de 1955, a casa Bandeirista que antes do restauro, estava fadada ao esquecimento, se tornou mais um museu, com identidade própria e com objetos extraídos do solo, como móveis, utensílios domésticos e outros objetos acumulados revelando a identidade de quem passou pela casa, formando a identidade local e assim se tornou tão importante.
Ainda assim, a Casa do Bandeirante só foi tombada e protegida em 1983 pelo CONDEPHAAT ( Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Turístico, Artístico e Arqueológico ).
O bom é que os funcionários nos deixam livres para tirar fotos.
Uma coisa que me intriga e muito é; quando eu fui pegar o endereço na Internet, por curiosidade, resolvi dar uma olhadinha na opinião das pessoas que já tinham ido e muitas delas, falaram que não tinha graça nenhuma, que não tinha nada para fazer, que ali era muito parado, que o museu era pobre, entre tantos outros.
O que as pessoas queria que tivessem ali? Uma fanfarra recebendo o visitante com música? Um show de stand-up, um trio elétrico com a Ivete Sangalo e Daniela Mercury juntas? Bloquinhos de Carnaval com um monte de gente fantasiada?

Acho que a galera ainda não entendeu o conceito de sítio arqueológico. Museu e sítio são coisas completamente diferentes.

Para quem quiser conhecer:

Endereço: Praça Monteiro Lobato s/n - Butantã -Linha Amarela do Metrô
Telefone: 11 30310920
E-mail: museudacidade@prefeitura.gov.br
Horário de Funcionamento: Terças-Feiras aos Domingos: Das 9h00 às 17h00 // Segundas-Feiras: Fechados
Site: http://www.museudacidade.sp.gov.br/casadobandeirante.php
ENTRADA GRATUITA

Então, é isso, andarilhos. São Paulo tem mais de 450 anos de história e cada pedacinho sussurra em nossos ouvidos. Precisamos estar atentos e conhecer aquilo que não é tão falado.
E são através dessa casinhas que mostram o quanto tudo isso foi importante para o desenvolvimento da nossa cidade. E que não podemos esquecer do nosso passado jamais. É a nossa identidade.
É muito bom ver o que a nossa cidade oferece.
E eu sempre digo que São Paulo não é só MASP, Terraço Itália, Parque do Ibirapuera e etc... ela vai muito além. Seja curioso. Vá além do que você enxerga.
É tão bom.
Espero que vocês tenham gostado e sinceramente, é um dos melhores lugares que eu já fui. Espero voltar o quanto antes.
E já me perguntaram. Vale a pena sair da Penha - Zona Leste só para ir a uma casa bandeirista do século 17, lá na Zona Oeste, no outro extremo da cidade?
Vale, vale muito... para mim, muito além da chegada do destino, o que me importa é o caminho.
Depois me contem o que acharam. Combinado?

Beijos e até semana que vem!












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