sexta-feira, 19 de outubro de 2018

#170 CEMITÉRIO DA CONSOLAÇÃO

Hello, andarilhos. Beleza? Então, beleza... Irão fazer o que hoje? Contem para mim.


Eu amo cemitérios. De verdade. Pode parecer esquisito, mas acho que pode ser um passeio muito interessante.
Vocês sabem que o silêncio para mim, é ouro e adoro ficar sozinha, de vez em quando. Ir ao cemitério é um dos lugares perfeitos para se conectar consigo mesma. Amo ler as plaquinhas e ficar imaginando do que a pessoa morreu.
Que fique bem claro que é um lugar de intenso respeito. Não saio de lá, saltitante e feliz. Mas acalma... Quando eu tinha meus 19 anos, comecei a escrever meu primeiro livro, de temática gótica. Fantasia gótica, na verdade. E eu ia ao Cemitério da Penha rascunhar ideias. Muito do livro foi escrito em meio aos túmulos, gatos e serenidade. E o lugar de hoje, inacreditavelmente, eu nunca tinha ido antes e não me perdoo por isso.

Vamos encontrar a paz no CEMITÉRIO DA CONSOLAÇÃO?

Considerado internacionalmente por ser um museu a céu aberto, devido a grandes obras de artes que jazem nos túmulos, é o cemitério mais antigo da cidade de São Paulo.
Em 2018, completou 160 anos de história. Foi fundado em 15 de julho de 1858 e inaugurado em agosto do mesmo ano, com o nome de Cemitério Municipal. Faltavam 127 anos para eu nascer. Gente, que loucura.

Em uma época que muitos lugares, inclusive aqui mesmo com a exportação de café, fazendo com que uma classe altamente elitizada, se instalasse na cidade, havia surtos de epidemias, doenças e vacinas ainda não eram tão eficazes, o Cemitério foi planejado para evitar novos surtos. O costume de antigamente era enterrar pessoas em terrenos de igrejas católicas.
É claro que mudanças muito repentinas nunca foram muito bem aceitas. Os casos viraram tema de saúde pública, pois os corpos estavam infectando o solo, o cheiro estava começando a ficar forte demais e foi então, que os primeiros cemitérios começaram a surgir.
Já não era de se esperar, a Igreja, virada no Jyraia, por muitas questões religiosas, não quis as construções e eram radicalmente contra cemitérios. Isso foi discutido por 30 longos anos, até que não deu mais. Era preciso fazer alguma coisa.
Treta daqui, treta dali e treta acolá, foi decidido, através de muito estudo, que o cemitério seria erguido no terreno da chácara do Marciano Pires de Oliveira. Procurei sobre esse ser humano na web, mas não encontrei o que ele fazia. Se tinha chácara, devia ser alguém importante na época.
Pois bem, o local escolhido pelo engenheiro Carlos Rath era o melhor, pois levaram em conta a altitude da região, qualidade do solo, a distância da cidade e até a altitude.

O terreno foi vendido para a Câmara por 200 mil réis, mas ainda assim, faltou verba para o término da obra, até que a maravilhosa Marquesa de Santos, sempre ela, doou dois contos de réis para terminar a construção do Cemitério. Acreditem, era uma pequena fortuna.
Meu Deus, andarilhos, a Marquesa era tão legal. Gosto muito dela. Tenho certeza de que seríamos friends se ela fosse viva.
Já falei dela por aqui, no post do SOLAR DA MARQUESA DE SANTOS.
E então, no dia 15 de agosto de 1858, o Cemitério da Consolação recebe o seu primeiro sepultamento.
Depois disso, é claro que o Cemitério precisou ser ampliado e o aumento custou 3 mil contos de réis. Nem sei quanto valeria isso hoje.

Até 1893, o Cemitério da Consolação enterrava pessoas de todas as classes sociais, incluindo escravos. Até então, era a única necrópole da cidade. Depois, vieram o Cemitério do Brás e o do Araçá e a partir daí que iniciou o processo de elitização. Naquela época, hoje nem tanto, era muito importante ter jazigos e túmulos chiques. Quanto maior ou mais cheio de badulaques provavam o quanto de riqueza você tinha.
Como rico tem mania de competição e adora ostentar para aquele seu outro amigo rico que fez isso ou aquilo, eram contratados artistas de grande renome com arte tumular no currículo. E então, tudo começou a ficar bem mais aristocrático. Os túmulos e os ornamentos começaram a ser fabricados na Europa.
E então, por ser uma cemitério que estava atraindo gente do mundo todo, não só para frequentar velórios, ocorreu uma reforma grande em 1901 para que o aspecto desagradável dos portões e também, do lado de dentro mudassem.

E, vamos dar graças ao Céus, por esse povo aristocrático e competitivo, pois graças a eles, o Cemitério hoje é um museu a céu aberto, com decorações em diversos estilos ( art noveau, art deco, entre tantos...)
São mais de trezentas obras de artista incluindo as de Victor Brecheret e do Ramos de Azevedo. Quase que eu tive aula de História da Arte na faculdade, dentro do Cemitério, mas quando você tem um professor visionário e a faculdade não é, isso se torna um grande problema.
Estão enterradas ali, centenas de personalidades históricas e do entretenimento. O mais legal é se perder no meio daquele labirinto todo, procurando por essas pessoas importantes.
Pessoas como Paulo Goulart, Monteiro Lobato, a best Marquesa de Santos, são algum dos exemplos. Encontrei os túmulos de alguns ex-presidentes, mas ali é muito grande. 2 horas e meia não foram o suficiente para ver tudo. Eu saí de lá suando de tanto sobe e desce escada. Da próxima vez, quero encontrar o túmulo do ator Paulo Goulart e deixar flores pra ele... sei lá, é um carinho.

Então, em julho de 2015, moradores, líderes comunitários e da administração se reuniram para debater o estado do Cemitério, visando melhorias, já que é um patrimônio histórico importante para a cidade.
Infelizmente, o Cemitério sofre muito com saqueamentos e roubos. Peças importantes são destruídas e ao passar por ali, vejo inúmeras plaquinhas fora do seu lugar, completamente violadas. O que é um absurdo e uma pena.
Sinceramente, vi que ali não está totalmente abandonado, mas está muito mal cuidado. Os portões precisam ser reformados. Não é legal receber tanto turista com o aspecto que está. São apenas 8 funcionários para cuidar de mais de 8.000 túmulos. Com certeza, não são o suficiente.
Cadê os concursos públicos? Hein? Hein?
O Cemitério é muito lindo. Vamos fazer valer a doação da Marquesa de Santos. Ela mora ai dentro agora. Tenho certeza que ela ficaria triste com tanto descaso.
É preciso buscar uma solução para tanto vandalismo. Seria necessário que o Governo se interessasse em melhorias para ele. E precisa se interessar mesmo, porque talvez o nosso próximo presidente será aquele que adora uma arma. E, bem... não vamos entrar em política.

Ainda assim, o Cemitério tem atividades diferentes( não são só velório e sepultamento, tá?). Cada túmulo de uma personalidade importante. Tem plaquinhas dizendo quem são e junto com um totem, um código de QR-Code para te transportar para a biografia do homenageado, além de visita guiada. Quem dá a verdadeira aula, é o famoso Popó, um ex coveiro, que é um funcionário exemplar e muito admirado por quem tem a chance de fazer essa visita com ele. Ele manja de tudo.
Apesar de saber da fama dele, preferimos não ter essa visita guiada. Não curtimos muito. Preferimos ficarmos livres e descobrir as coisas por nós mesmos.

Estão vendo o porquê eu não curto shopping? Não dá para aprender muita coisa e nem me traz experiências interessantes. E, cemitérios sempre estiveram presentes em minha vida. Não acho estranho, não acho esquisito e acho um passeio bem singular. É um lugar de calma, paz e ainda melhor para colocar as ideias em ordem.

Endereço: Rua da Consolação, 1660 - Consolação ( Linha Amarela do Metrô - Metrô Higienópolis - Mackenzie é mais perto )
Telefone: 11 3256-5919 ( Para mais informações e agendar a visita guiada com o Popó).
Site: http://www.cemiteriodaconsolacao.com.br/
E-mail para solicitação de visita guiada: assessoriadeimprensa@prefeitura.sp.gov.br
Horário de Funcionamento: Diariamente - das 8h00 às 18h00 ( Se atente ao horário. Não vai querer ficar preso dentro de um cemitério, né?)
Possui Capela.
NÃO POSSUI ESTACIONAMENTO

Pois é, andarilhos. Pode ser esquisito passear em um cemitério para alguns. É divertido, mas sempre com muito respeito. Jamais tire fotos com o nome das plaquinhas ou suba nos túmulos. Eles não estão vivos para reclamar, mas são 8.000 mil histórias e sonhos que foram vividos ou não. Muitas histórias foram contadas e é lindo saber disso.
Sinta o ar puro, preste atenção na árvores centenárias e nos gatos lindos que estão ali. Vão sem preconceito. Saia da rotina.
Depois me contem o que acharam, combinado?

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Beijos sepulcrais e até quinta!




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