Eu sempre bato na tecla aqui sobre a importância de andar. Mais do que andar, é entender a importância de um tal lugar.
É uma delícia saber o que cada um representa. Sem contar que o importante não é tanto chegar no destino, mas o que acontece durante a sua chegada. Isso é se divertir. Talvez, o destino final não seja tão incrível assim.
O lugar de hoje faz parte da minha memória afetiva. Eu o conheci de fato, no último ano de faculdade de Rádio & TV. Tivemos que gravar uma websérie valendo nota e esse foi o local escolhido. Para se ter uma ideia, não era aberto ao público, não estava revitalizado e tivemos que pedir autorização para gravarmos, pois também é um prédio residencial. Era uma webserie de terror e o lugar ajudava muito no clima. Estava muito frio e contribuiu muito para chegarmos a perfeição.
Talvez a parte mais legal de ser um produtor de TV ou cinema, é ir atrás de lugares perfeitos para uma produção.
Vamos caminhar no LARGO DA PÓLVORA?
Sabemos que o bairro Liberdade é um dos mais históricos de São Paulo, conhecido pela imigração japonesa no século 19.
E a história do Largo da Pólvora também não é uma das mais felizes.
O mais incrível que antes, os bairros que vemos hoje, tinham um dono e geralmente eram chácaras. Então, por exemplo, um cara cheio da grana, tinha lotes e dinheiro o suficiente para comprar o que ele quisesse. Então, cada bairro antigamente pertencia a um sujeito ricaço.
São Paulo era a passagem para Santos, Minas Gerais e Rio de Janeiro e junto com o café, São Paulo exportava cabeças de gados. Saia dali grandes alianças para compra e venda.
Acreditam que a Liberdade já foi considerada periferia no século 19? Pois é. Nem eu acredito. Pois então, antes era conhecido como bairro da Pólvora, por causa de um depósito de explosivos.
Sabe o que é mais incrível? Que entra ano, sai ano, a história é sempre a mesma. Ainda antes de ser conhecido como Largo da Pólvora, era chamado de Largo da Forca.
É difícil de acreditar mas São Paulo teve execuções por pena de morte e ainda servia como palco para grandes execuções públicas. Ou seja, o povo assistia a condenação ao vivo. Seja por enforcamento ou asfixia.
Teve um personagem muito importante nessa história toda, que talvez marque muito a história da Liberdade e não, não era um japonês.
Era Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, um cabo brasileiro pertencente ao Exército do Império Português.
E como toda pessoa que pensa diferente e que luta por coisas melhores, logicamente é perseguida. Dentro do quartel, houve uma Revolta ( conhecida como Nativista - eu não tive isso na escola), onde os soldados reivindicavam por seus salários que não recebiam há 5 fucking anos e tratamento igualitários entre soldados portugueses e brasileiros.
E o que aconteceu? Chaguinhas foi condenado a forca por desordem e rebeldia. Conseguiu fugir durante um tempo, mas foi pego logo em seguida.
Então, sua condenação chocou a cidade de São Paulo. A forca foi erguida ali, bem no meio do que hoje é um singelo lago com carpas, sendo assistido por uma multidão, com o rufar de tambores e com respiração ansiosas dos telespectadores. Por alguma intervenção divina, a corda rachou ao meio e deu errado, foram mais 3 tentativas, para tentar matar o homem e não conseguiram, até que resolveram mata-lo a pauladas.
Velas foram acesas no local do crime e ele se tornou uma espécie de heróis da época. Logo em seguida, uma capela foi erguida em homenagem a ele. Mas, não ali. É conhecida como a Capela dos Aflitos. Aliás, essa igreja entra no tour de lugares mal assombrados daqui de São Paulo. Sim, aqui tem um roteiro especializado em lugares assim.
Eu não conheço. Eu quase fui semana retrasada, mas o andarilho tem medo, fazer o que?
É claro que quem passa por ali todos, talvez não faça ideia de quem foi Chaguinhas e o porquê se esse local se chame Largo da Pólvora. É um lugar extremamente histórico que nos faz pensar o quanto somos conservadores desde que mundo é mundo.
Ideias revolucionárias nunca foram muito bem vistas e lutar por elas sempre foi muito difícil.
Mas, o que interessa agora é que depois de ano de abandono, o Largo da Pólvora foi revitalizado, em parceria com a Prefeitura e empresas privadas, em homenagem aos 110 anos da imigração japonesa.
Se bem que ali não tem nada haver com a cultura oriental, mas enfim, está valendo, né? E também para comemorar os 40 anos do largo quando o edifício foi construído.
O total da revitalização custou R$257 mil e as empresas parceiras ficarão com essa responsabilidade por 36 meses, ou por 3 anos.
Então, é um lugar muito gostoso para descansar, passar sua hora de almoço ali, namorar um pouquinho, ver as carpas no lago, se reconectar com você mesmo, ficar observando as flores e os passarinhos, comer um lanche, enfim...
Endereço: Avenida da Liberdade, 535 - Liberdade ( Linha Azul do Metrô)
Horário de Funcionamento: Diariamente - 07h00 às 22h00
NÃO HÁ ESTACIONAMENTO
ENTRADA GRATUITA
SEM SITE
SEM TELEFONE
Então, é isso, andarilhos. Muito oportuna essa história vir parar aqui no sábado, véspera das eleições. E sinceramente, eu amei. É preciso ter força para lutar em prol dos outros. Não é só nosso umbigo que importa.
E não foi só Chaguinhas, mas tantos outros lutaram por tanta coisa. Muito sangue derramado para termos um bem maior. E o voto é um deles.
Não tinha ideia da importância do Largo da Pólvora. Achava que era só um conjunto residencial com um lago para vermos carpas nadando livremente.
Sejamos livres. Resistir é o que importa. Vamos lutar contra qualquer censura de pensamento e o direito de ir e vir. A derrota esta na urnas.
Vamos buscar a luz e o Mito, o verdadeiro mito morreu para nos salvar. Lembrem-se disso quando forem votar.
Ah, e quem quiser assistir a Webserie, vá lá no Youtube e digite: DOCE SONHO.
Beijos sangrentos e até quinta!
Gosto de passear assim, conhecendo a história do lugar.
ResponderExcluirÉ mais gostoso passear dessa forma. O olhar muda, tudo fica diferente...
ResponderExcluirContinue acompanhando as pastagens, indique Par os amigos. Boa aumentar essa caravana de andarilhos. Beijos e brigada ❤