sexta-feira, 17 de agosto de 2018

#152 CENTRO DE MEMÓRIA DO BIXIGA

Hello, andarilhos. Tudo bem com vocês? O que vão fazer de bom hoje?


Eu sempre disse nesse blog que sempre vou priorizar os passeios diferentes, que foi um dos motivos dele existir.
Eu não sou muito de planejar as coisas e minha mente é um verdadeiro caos. Penso em milhões de coisas ao mesmo tempo e me esqueço de todas, logo em seguida.
É meio complicado ser desse jeito. Anoto e já não me lembro mais depois. Nem o que foi, nem onde deixei.

Falo isso porque sempre encontro lugares muito diferentes e quero ir em todos ao mesmo tempo e agora. E são nessas, que sempre acontece algo que certamente, virará histórias lendárias. O lugar de hoje não era para ser.
O tour seria pelo bairro do Bixiga, já que eu iria comprar os ingressos para o Risadaria que foi no mês passado, lá no Teatro Sérgio Cardoso que eu já falei por aqui.
E vi dois lugares: o Museu do Bixiga e o Centro de Memória do Bixiga. Mirei em um e fui acabar no outro.
A intenção era ir no Museu e fiquei com isso na cabeça. Não conheço muito por lá e o Bixiga tem uma identidade própria. É um bairro tão icônico, tão único, tão ele, que sua história merece ser realmente contada e lembrada.
Só que pensando no Museu, acabei ligando no Centro de Memória do Bixiga, sem me dar conta. Liguei lá, agendando uma visita e achei estranho quando a moça que me atendeu, não sabia muito das informações e ficou perguntando para um senhor.
Esse senhor ninguém mais, ninguém menos é o Walter Taverna, que falarei dele logo mais.
Perguntei também o último horário de visitação e ela disse que seria no horário da janta. Achei esquisitíssimo, mas ainda assim, marcamos o passeio para o mesmo dia, algumas horas depois. Em minha cabeça, seria visita guiada.
Vamos relembrar que depois de tudo isso, eu ainda achava que estava falando com a galera do Museu.

Enfim, chegamos no horário combinado. Vi que era uma casa que não era a mesma que eu tinha visto na Internet. Mas, ainda assim não me toquei que eu estava em um lugar diferente. Andarilhos, isso não é burrice. É distração forte.
Tocamos a campainha e ficamos um quinze minutos esperando, até que a filha dele que trabalha em uma cantina em frente, ligou lá e falou que estávamos aguardando.

Foi realmente aí que me dei conta de que estava no lugar errado e que não dava mais para voltar atrás.
Entendi que era uma casa residencial e que a mulher que eu tinha conversado antes, a Erica, era a cuidadora do seu Walter que tem uma sáude muito debilitada.


Vamos conhecer o CENTRO DE MEMÓRIA DO BIXIGA?

Criado em 1978, há quarenta anos, por Walter Taverna, morador nato do Bixiga, é uma sociedade sem fins lucrativos que luta pela preservação e memória do bairro. Todo o patrimônio arquitetônico, histórico e cultural do bairro é administrado por ele.
Na verdade, é um acervo pessoal que fica em um único andar e também um espaço colaborativo. Itens que os próprios moradores do bairro ajudaram a compor esse centro de memória.
Walter Taverna sempre foi um homem trabalhador. Nasceu na década de 1930 lá no Bixiga mesmo, no fundo de uma cocheira, com a ajuda de uma parteira e desde os 6 anos trabalha.

Foi faxineiro da primeira cantina de lá, emprego arranjado por seu pai. Ficou pouco tempo, pois os seus pais separaram-se e ele foi obrigado a morar com uma tia. Uma tia muito sem paciência, que o expulsou de casa, por ter quebrado a vidraça jogando bola. Morou por 6 meses na Escadaria do Bixiga ( um lugar que eu preciso tirar fotos, mas não encontro o danado), até ser acolhido por uma outra tia.

Aos 13 anos, foi ser barbeiro. Com o pouco dinheiro que juntou, abriu um pequeno salão. Mas, adivinhem? Fechado pela Prefeitura por ampliação de lotes. Claro que arregaçou as mangas, foi trabalhar a domícilio, fazendo barba até de gente falecida.
Anos depois, em 1958, perde seu pai, sua tias e sobrinhas após um acidente fatal dentro de um taxi alugado.
Resolveu trabalhar ainda mais para afugentar a tristeza: continuou sendo barbeiro, tapeceiro, marceneiro... até abrir a sua própria cantina que mantinha o cardápio original do bairro. Logo depois, perdeu o seu filho e foi no trabalho que continou sua inspiração. Teve mais sete cantinas que logo foram parar em outras mãos. Uma dessas mãos, é a filha Solange, da qual eu conheci.

Seu Walter é uma lenda vida no bairro. Ele sempre foi o organizador de vários eventos, inclusive os mais famosos.
Se lembram da Festa de Nossa Senhora Achiropita? Pois então...
O Bolo do Bixiga, comemorado sempre no aniversário de São Paulo, idealizado por ele e um amigo de infância já foi parar no Guinness Book, lá em 1992.
Concurso de Anões, Rainha do Bixiga, o Varal do Bixiga que nada mais é, do que várias roupas ( chegou a quase 3 mil ) para ficar pendurada pelo bairro inteiro... tudo isso saiu de sua cabeça.

Então, ao visitarmos o Centro de memória, nos deparáramos com vários itens, fotos e até fantasias da escola de Samba Vai-Vai.
A parede é repleta de quadros, que nos melhores tempos, foram reportagens de jornais, revistas, TVs, encontros com políticos e celebridades.
Acredito que não tenha um "bexiguense" que não saiba quem é Walter Taverna. A parte de fora, tem um jardinzinho super fofo.

O local é bem intimista. É a história de alguém que se doou muito pelo bairro e foi inovador durante muito tempo.
Seu Walter necessita de cuidados especiais e eu não tinha ideia disso.
Ao visitar, quando vi que toda uma movimentação foi feita para a nossa chegada, confesso que me senti invasiva.
Ele conversa, mas não entende muito o que a gente fala e não lembra de muita coisa. Tem hora que lembra perfeitamente bem e em horas que vem um vazio... Coisas da idade.

Quero agradecer imensamente a filha, a cuidadora, Erica e ao próprio Walter por nos ter cedido o seu tempo. Desculpe-nos a intromissão, a falha e qualquer incômodo que tenhamos dado.
Foi bom passar essa 1 hora, sabendo mais um pouco do Bixiga e saber que há pessoas assim, enchendo o coração das pessoas de alegria.

Ah, em tempo. O Museu do Bixiga, aquele que eu mirei para ir, está fechado temporariamente

Endereço: Rua 13 de Maio, 569 - Bixiga/Bela Vista ( Estação São Joaquim ou Liberdade do Metrô - 15 minutos de caminhada)
PARA AGENDAR VISITA: 11 3284 4355
E-mail: centrodememoriadobixiga@gmail.com
Não há estacionamento

That's all, andarilhos. Admiro pessoas que amam o seu próprio bairro e que fazer de tudo para que haja uma comoção. É muito bom ver suas ideias compartilhadas.
Como o próprio Walter diz, o Bixiga é um estado de espirito. Mas a Mooca também, o Brás, a Penha... Tudo é São Paulo. E isso é o que importa.

Beijos bexiguenses e até quinta.


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