Hello, andarilhos. Tudo bem com vocês? O que vão fazer de bom hoje?
Eu não sou muito de planejar as coisas e minha mente é um verdadeiro caos. Penso em milhões de coisas ao mesmo tempo e me esqueço de todas, logo em seguida.
É meio complicado ser desse jeito. Anoto e já não me lembro mais depois. Nem o que foi, nem onde deixei.
Falo isso porque sempre encontro lugares muito diferentes e quero ir em todos ao mesmo tempo e agora. E são nessas, que sempre acontece algo que certamente, virará histórias lendárias. O lugar de hoje não era para ser.
O tour seria pelo bairro do Bixiga, já que eu iria comprar os ingressos para o Risadaria que foi no mês passado, lá no Teatro Sérgio Cardoso que eu já falei por aqui.
E vi dois lugares: o Museu do Bixiga e o Centro de Memória do Bixiga. Mirei em um e fui acabar no outro.
A intenção era ir no Museu e fiquei com isso na cabeça. Não conheço muito por lá e o Bixiga tem uma identidade própria. É um bairro tão icônico, tão único, tão ele, que sua história merece ser realmente contada e lembrada.
Esse senhor ninguém mais, ninguém menos é o Walter Taverna, que falarei dele logo mais.
Perguntei também o último horário de visitação e ela disse que seria no horário da janta. Achei esquisitíssimo, mas ainda assim, marcamos o passeio para o mesmo dia, algumas horas depois. Em minha cabeça, seria visita guiada.
Vamos relembrar que depois de tudo isso, eu ainda achava que estava falando com a galera do Museu.
Enfim, chegamos no horário combinado. Vi que era uma casa que não era a mesma que eu tinha visto na Internet. Mas, ainda assim não me toquei que eu estava em um lugar diferente. Andarilhos, isso não é burrice. É distração forte.
Tocamos a campainha e ficamos um quinze minutos esperando, até que a filha dele que trabalha em uma cantina em frente, ligou lá e falou que estávamos aguardando.
Foi realmente aí que me dei conta de que estava no lugar errado e que não dava mais para voltar atrás.
Entendi que era uma casa residencial e que a mulher que eu tinha conversado antes, a Erica, era a cuidadora do seu Walter que tem uma sáude muito debilitada.
Vamos conhecer o CENTRO DE MEMÓRIA DO BIXIGA?
Na verdade, é um acervo pessoal que fica em um único andar e também um espaço colaborativo. Itens que os próprios moradores do bairro ajudaram a compor esse centro de memória.
Walter Taverna sempre foi um homem trabalhador. Nasceu na década de 1930 lá no Bixiga mesmo, no fundo de uma cocheira, com a ajuda de uma parteira e desde os 6 anos trabalha.
Foi faxineiro da primeira cantina de lá, emprego arranjado por seu pai. Ficou pouco tempo, pois os seus pais separaram-se e ele foi obrigado a morar com uma tia. Uma tia muito sem paciência, que o expulsou de casa, por ter quebrado a vidraça jogando bola. Morou por 6 meses na Escadaria do Bixiga ( um lugar que eu preciso tirar fotos, mas não encontro o danado), até ser acolhido por uma outra tia.
Anos depois, em 1958, perde seu pai, sua tias e sobrinhas após um acidente fatal dentro de um taxi alugado.
Resolveu trabalhar ainda mais para afugentar a tristeza: continuou sendo barbeiro, tapeceiro, marceneiro... até abrir a sua própria cantina que mantinha o cardápio original do bairro. Logo depois, perdeu o seu filho e foi no trabalho que continou sua inspiração. Teve mais sete cantinas que logo foram parar em outras mãos. Uma dessas mãos, é a filha Solange, da qual eu conheci.
Seu Walter é uma lenda vida no bairro. Ele sempre foi o organizador de vários eventos, inclusive os mais famosos.
Se lembram da Festa de Nossa Senhora Achiropita? Pois então...
O Bolo do Bixiga, comemorado sempre no aniversário de São Paulo, idealizado por ele e um amigo de infância já foi parar no Guinness Book, lá em 1992.
Concurso de Anões, Rainha do Bixiga, o Varal do Bixiga que nada mais é, do que várias roupas ( chegou a quase 3 mil ) para ficar pendurada pelo bairro inteiro... tudo isso saiu de sua cabeça.
A parede é repleta de quadros, que nos melhores tempos, foram reportagens de jornais, revistas, TVs, encontros com políticos e celebridades.
Acredito que não tenha um "bexiguense" que não saiba quem é Walter Taverna. A parte de fora, tem um jardinzinho super fofo.
O local é bem intimista. É a história de alguém que se doou muito pelo bairro e foi inovador durante muito tempo.
Seu Walter necessita de cuidados especiais e eu não tinha ideia disso.
Ao visitar, quando vi que toda uma movimentação foi feita para a nossa chegada, confesso que me senti invasiva.
Ele conversa, mas não entende muito o que a gente fala e não lembra de muita coisa. Tem hora que lembra perfeitamente bem e em horas que vem um vazio... Coisas da idade.
Quero agradecer imensamente a filha, a cuidadora, Erica e ao próprio Walter por nos ter cedido o seu tempo. Desculpe-nos a intromissão, a falha e qualquer incômodo que tenhamos dado.
Foi bom passar essa 1 hora, sabendo mais um pouco do Bixiga e saber que há pessoas assim, enchendo o coração das pessoas de alegria.
Ah, em tempo. O Museu do Bixiga, aquele que eu mirei para ir, está fechado temporariamente
PARA AGENDAR VISITA: 11 3284 4355
E-mail: centrodememoriadobixiga@gmail.com
Não há estacionamento
That's all, andarilhos. Admiro pessoas que amam o seu próprio bairro e que fazer de tudo para que haja uma comoção. É muito bom ver suas ideias compartilhadas.
Como o próprio Walter diz, o Bixiga é um estado de espirito. Mas a Mooca também, o Brás, a Penha... Tudo é São Paulo. E isso é o que importa.
Beijos bexiguenses e até quinta.
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